terça-feira, 29 de abril de 2008

Assim vai a "democracia" (entre muitas aspas)

Movimentos anti-precariedade calados ontem na RTP

Os Precários-Inflexíveis e o FERVE (Fartos/as d'Estes Recibos Verdes) foram calados na RTP. Aconteceu ontem à noite no programa "Prós e Contras", filmado na Casa do Artista, em Lisboa. Estes dois movimentos anti-precariedade tinham sido convidados a participar num debate televisivo sobre as novas propostas de leis laborais apresentadas pelo Governo. Mas quando o representante do FERVE (André Soares) e dos Precários-Inflexíveis (João Pacheco) foram conduzidos aos camarins, foi-lhes dito numa escada de acesso que afinal havia demasiados convidados e apenas um deles poderia falar. Os representantes dos dois movimentos decidiram partilhar o curto "tempo de antena", preparando-se para falar um sobre questões práticas relacionadas com os falsos recibos verdes na função pública e a petição apresentada pelo FERVE à Assembleia da República e o outro sobre o desfile anual anti-precariedade Mayday, que começará à uma da tarde de 1 de Maio, no Largo Camões, em Lisboa. Na sua curtíssima declaração, o representante do FERVE, André Soares, colocou várias questões incómodas ao ministro do Trabalho e da Solidariedade Social Vieira da Silva. A partir desse momento foi impossível os representantes destes dois movimentos anti-precariedade voltarem a falar. O representante do FERVE, André Soares, abandonou o auditório pouco depois de ter falado e de não ter tido direito a respostas do ministro Vieira da Silva, coisa que se esperava de um debate, modelo em que o programa se insere. O representante dos Precários-Inflexíveis, João Pacheco, ficou longos minutos de pé na primeira fila da audiência. Com um microfone desligado na mão, à espera de poder falar pelo menos uma vez. Ao fim de muito tempo, foi convidado a sair por uma das pessoas da produção do programa. Com João Pacheco saíram do auditório em solidariedade todos os membros dos Precários-Inflexíveis presentes até esse momento nas filas da frente do auditório. Os Precários-Inflexíveis repudiam o que aconteceu no "Prós e Contras" de ontem e estão a preparar uma queixa formal ao Provedor do telespectador da Rádio e Televisão de Portugal, professor Paquete de Oliveira. Como é possível que sejam convidadas pessoas para falar num programa de um canal de televisão público, deixando-as depois a fazer figura na audiência, como jarras decorativas? Certos de que a precariedade é uma bomba-relógio social prestes a rebentar em Portugal, os Precários-Inflexíveis dizem aqui o essencial do que ficou por dizer ontem, num programa em que praticamente apenas se falou de trabalho precário: 1 de Maio, uma da tarde, largo Camões, em Lisboa - Mayday! Resta-nos a rua para podermos expressar a nossa luta. A presença desta multidão enganada será ouvida.

domingo, 27 de abril de 2008

Roubar no Castelo de São Jorge


Não se alarmem os mais securitários! Este é um roubo sem faca, sem pistola, sem seringa. É um roubo descarado e sem vergonha, sem dúvida, mas, nevertheless, legal. Gosto muito do Castelo de São Jorge. É um local aprazível, que respira História em cada pedra do edifício, onde se tem uma vista notável de parte da cidade de Lisboa, e de além-Tejo. É um sítio maravilhoso para se estar, para visitar, enfim, para passear. E não é, particularmente, por ser lisboeta. Que sou. Pois vamos a um qualquer sítio do Mundo, e gostamos desse sítio ou não. Ponto. Hoje, durante a tarde, lá fomos, eu e a minha namorada, ao Castelo. Subimos desde a Baixa no mítico eléctrico 28 até lá cima. Saímos na paragem do miradouro de Santa Luzía (outro ponto de esplendoroso interesse), e subimos o pouco que faltava até ao Castelo. A primeira paragem, hoje em dia, é a bilheteira. Noutros tempos, seria um qualquer banco já dentro do Castelo. Não pago, sou de Lisboa (obrigado, Câmara, Governo ou Estado, ou lá que for). Mas a minha namorada, que mora a uns escassos (diria até ridículos, nesta situação) 100 metros de Lisboa, mas já fora da cidade, tem que pôr de fora do bolso a bela maquia de 5€. Como é estudante, tem a benesse de ser apenas metade; 2,5€. Primeiro roubo declarado. Desde que a cultura virou negócio, temos que amochar. Para mais, é um monumento nacional. Pagar para entrar numa "coisa" que "é nossa", é algo que me confunde. E enoja. Mas adiante. Lá entrámos. Andámos um pouquinho, e sentámo-nos na esplanada que existe a caminho do Castelejo. Que agradável... Como tudo, hoje em dia, é negócio, para estar ali sentados havia que consumir. E lá fomos consumir. Perguntei à senhora que estava a trabalhar no café/snack-bar do Castelo quanto era a imperial. Ela respondeu-me, com educação, "2,80€". Espantado, retorqui: "parece que quando entramos no Castelo, entramos noutro país.". Nada mais acertado. À nossa volta, só só só SÓ estrangeiros. Gente interessada, como é óbvio, nas belezas que a cidade de Lisboa lhes tem para oferecer, entre as quais o Castelo de São Jorge. E gente com capacidade salarial para fazer tal. Nada a objectar, como me parece claro. Para tornar esta minha frase mais densa, nada melhor que os preços exorbitantes que aquele estabelecimento (pertencente às Pousadas de Portugal, por sua vez pertencente ao império Pestana) pratica. Parecia mesmo que estávamos noutro país: pagar para entrar no que é nosso e pagar 5,60€ por 2 imperiais... Conversando com a minha namorada, pareceu-nos óbvio o porquê de não haver ali quaisquer indícios de portugueses; é que o português da classe-média, hoje em dia cada vez mais depauperada (ou roubada, como quiserem), não vai: 1º - gastar 5€, caso tenha o "azar" de não ser lisboeta, para entrar num MONUMENTO NACIONAL (ou seja, NOSSO!); 2º - não vai passear para aquele lugar porque não se vai sentar, com os miúdos, depois de uma passeata e de umas brincadeiras, numa esplanada onde pagamos couro e cabelo por qualquer merdinha. Ou seja, o Castelo de São Jorge só existe para estrangeiro lá ir. Nada contra. Muito pelo contrário. Mas quanto aos portugueses, quem quiser lá, conselho meu: leve farnel e uma latinha de suminho ou cerveja no bolso... Isto se for lisboeta... Porque se não for, não se livra da "mocada" logo à entrada... E eu a pensar que os nossos impostos iam para algum lado...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 de Abril SEMPRE, fascismo NUNCA MAIS!!!
























As Portas que Abril abriu…

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.
Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!
José Carlos Ary dos Santos

Cavaco, o Loquaz



Assinalam-se hoje os 34 anos da Revolução de Abril, que abriu as portas à Democracia e fechou as da miséria, do analfabetismo, do atraso, da fome. Talvez as não tenha fechado com a veemência que se impunha, já que muito há ainda por fazer. Mas não há dúvida que se encerrou um vil capítulo da nossa História. Como é hábito, houve a Sessão Solene na Assembléia da República, com discursos para todos os gostos e feitios. Mas o discurso que mais me surpreendeu foi o de Cavaco. Aliás, não fui totalmente apanhado de surpresa, já que o percurso de Presidente da República deste senhor se pauta por um "tá que não tá" "vai que não vai" diz que diz mas não diz", um caminho de meias palavras, de hesitações e sobretudo de "sobre isso não tenho opinião" ou "sobre essa matéria não posso falar aqui". É o que os nossos proto comentadores políticos gostam de chamar de "magistratura de influência". Eu sou mais modesto e chamo-lhe palhaçada. Ou mesmo pântano, uma palavra que entrou no nosso vocabulário político pela mão de Guterres. Adiante. Cavaco falou de um país que ele desconhecia, porque, aliás, ele (e Sócrates) vive num mundo muito próprio; falou de um país em que, espante-se, os jovens ignoram o 25 de Abril, não sabem o que representa, o que foi, como foi. E disse-se impressionado. Mais; disse "não ser saudável que a nossa democracia despreze o seu código genético e as promessas que nele estiveram inscritas". Mas mais ainda; "num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar", comentou. E ainda disse outras coisas que tais, que não valem a pena estarem a ser esmiuçadas. O meu espanto é que o senhor que disse tudo isto, é o mesmíssimo senhor que esteve durante 10 (DEZ!) anos no poder, 8 (OITO!!!) deles em maioria absoluta, e queixa-se de tudo isto que se passa à sua volta como se não tivesse nunca tido nada a ver com a governação do país! Cavaco tem claras responsabilidades nisto, e não deve mandar "postas de pescada"! Deve, sim, pedir desculpa por nada ter feito sobre esta matéria no tempo de governação que teve ao seu dispôr! Mas não... Devemos é continuar a ouvir este senhor mandar estas bocas como se nunca tivesse governado o país, como se fosse uma espécie de vulto paternal da nação, de longas e alvas barbas e cabelo ao vento, de quem se devem ouvir os conselhos e esquecer o que ele fez durante 10 anos. Pois eu não tenho fraca memória. Lembro-me dos anos de 1985 a 1995 em que ele deambulou pelos corredores do Palácio de São Bento, líder de um governo autista, autoritário, descricionário. Ocorre-me perguntar-lhe para onde foram os milhões e milhões e milhões da Comunidade Económica Europeia, à data... Na Irlanda é muito óbvio para onde foram. Mas não se deve colocar tais questões ao mentor e pai da nação. Deve-se, sim, prestar-lhe vassalagem e ter por ele uma enorme reverência. Beijo-lhe a mão, Pater familias. E peço perdão por pô-lo em causa desta maneira.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Sporting -Benfica

Ontem decorreu, no meu entender, que confesso não ser um grande especialista nesta matéria, o melhor jogo de futebol da época. Duas equipas que entraram em campo para ganhar, demonstrando uma garra e uma determinação, pouco vistas no futebol do nossos tempos. Na primeira parte o Benfica esteve claramente melhor que o Sporting, tendo marcado dois golos. Contudo, quando já nada o fazia prever, o Sporting conseguiu dar a reviravolta, ficando o resultado em 5 -3. Os dois clubes estão de parabéns pelo espectáculo que proporcionaram. Claro que, como Sportinguista fiquei mais contente por a minha equipa ter ganho.Lol!!!
Agora os grandes objectivos dos Sporting são vencer a Taça de Portugal e atingir o segundo lugar do campeonato, de forma a ter acesso directo à Liga dos Campeões. Não serão tarefas fáceis. Contudo, se continuarem a jogar como jogarem ontem, irão de certeza alcançar estas metas.




Viva o Sporting!!!

Eleições em Itália


A coligação de direita liderada por Silvio Berlusconi ganhou em Itália. O povo votou e é soberano. Contudo, fico triste. Itália que, é preciso não esquecer, é uma das maiores potências económicas do mundo, merecia ter um Primeiro - Ministro mais credivel. Com efeito, Berlusconi é uma personagem descredibilizante. Um homem que fez fortuna de uma forma obscura e não olha a meios para atingir os seus fins( por exemplo, o aproveitamento descarado dos orgãos de comunicação social de que é proprietário para se promover politicamente). Prefiro um homem como Prodi, que apesar da sua imagem cinzenta, ninguém tem dúvidas de que é sério e credivel, do que um vigarista "chico esperto" que tem a mania que é vedeta e que é o "suprasumo da barbatana". Ainda por cima está coligado com os neo -fascistas e com a Liga do Norte de Bossi, um partido xenofóbo que advoga a superioridade dos italianos do norte em relação aos do sul,aspirando à independência do norte de Itália( o que eles designam a Padânia). É caso para dizer: "diz-me com quem andas, que eu digo-te quem és".
De qualquer forma, Berlusconi só tem maioria absoluta em coligação com essas duas forças políticas. O partido mais votado, em termos nominais, foi o Partido Democrático, de centro -esquerda,liderado por Veltroni, que não quis coligações com a esquerda mais radical (refundação comunista e outros). Foi um bom resultado para este novo partido, que se posicionou como alternativa ao bloco de direita populista, reacionário e separatista, liderado por este personagem digno de um filme de comédia,de nome Silvio Berlusconi.

domingo, 13 de abril de 2008

Formação ideológica



Decorreu ontem, na Secção do PS da Almirante Reis em Lisboa, uma acção de formação ideológica organizada pela JS – FAUL e JS Concelhia de Lisboa sobre o “o Socialismo em Democracia”. Teve como orador o camarada Pedro Alves, Secretário Nacional da JS e Professor da FDL. Foi bastante interessante. Abordaram-se as origens do socialismo, as várias correntes, a evolução, a história do socialismo em Portugal e tentou-se abordar o que é verdadeiramente uma política socialista nos nossos tempos. Estavam cerca de 30 pessoas a assistir, o que tendo em conta a hora em que começou (11 da noite) e ser uma Quinta – Feira, foi uma assistência muito razoável. Colocaram questões muito pertinentes o que, confesso, surpreendeu-me. Eu sinceramente pensava que a geração dos 15- 23 anos, já não tinha qualquer tipo de interesse por questões politicas e que só estavam nas jotas para beber uns copos e porque lhes disseram que ser politico não dava trabalho e se ganhava bem. Estava redondamente enganado. Pelo que assisti ontem, há um interesse genuíno dessa geração pela política. Só precisam é de ser motivados.
É pena que muitas estruturas da JS e de outras jotas não realizem este tipo de iniciativas e se percam em questões perversas (caciquismo, lutas pelo poder, etc) que, são mais do domínio do oportunismo que da política. Depois há quem se admire que a actividade politica é cada vez menos procurada pelas pessoas bem intencionadas…

Parabéns a JS Lisboa!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Chavez e os Simpsons


Não acredito... Hugo Chavez e o seu Governo proibiram a emissão da série televisiva "Os Simpsons". Para o fazer alegaram que a série era "uma má influencia para os menores".
Com estes pequenos gestos, aparentemente insignificantes, fica provado que Chavez e o seu Governo de fachada socialista não respeitam a liberdade de expressão. Chavez ainda não é um ditador, mas que tem vontade de o ser, não resta qualquer dúvida. Chavez que se diz socialista, devia saber que socialismo sem liberdade não é socialismo. De facto, Chavez tem como modelo o "socialismo revolucionário" de inspiração Cubana e não o Socialismo Democrático. Pretende, e só não vê quem não quer, instalar uma "democracia popular" de tipo Marxista - Leninista na Venezuela.
É pena que a Venezuela, um pais com tantas potencialidades de crescimento e desenvolvimento, esteja a ser liderada por este senhor que é tudo menos um democrata. Este, infelizmente, com as suas constantes atitudes descredibilizantes e pouco dignas de um Chefe de Estado , tem colocado a Venezuela numa situação pouco prestigiada perante a comunidade internacional.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Solidariedade com os Socialistas da Madeira

Espantosas, para usar um eufemismo, as declarações de Jaime Gama na Madeira, no Congresso da ANAFRE, a enaltecer Alberto João Jardim e o seu trabalho. É, no minimo surpreendente, numa pessoa que, há uns anos atrás, apelidou Jardim de "bokassa" venha agora fazer rasgados elogios a esta personagem.
Será que Jaime Gama se esqueceu que Jardim é um Boçal? Que insulta pessoas, quando bem lhe apetece? Que a Madeira tem um claro défice Democrático e que Jardim e a sua pandilha montaram um "polvo" tão tentacular que, a quem queira ter uma vida tranquila na Madeira não é aconselhável criticar o Governo Regional ou ser dos partidos da oposição? Jardim é um autêntico caudilho. Faz lembrar aqueles ditadores folclóricos dos paises tropicais.
Tem obra feita? Também Hitler, Mussolini, Franco, Pinochet ou mesmo Salazar, tinham obra feita e não foi por isso que deixaram de ser considerados Ditadores.
Estou solidário com os meus camaradas da Madeira.Compreendo perfeitamente a sua indignação perante estas afirmações. São de facto revoltantes, para quem, todos os dias, dá a cara pelo Partido Socialista na Madeira (o que não é fácil) e faz oposição ao "Bokassa" Jardim. Ainda por cima, vinda do Presidente da Assembleia da República, dirigente nacional e fundador do PS. Não desanimem camaradas!Continuem a lutar! Continuem a não ter medo de fazer oposição! Alberto João e a sua seita um dia serão derrotados!
Viva o PS Madeira!!!