domingo, 27 de abril de 2008

Roubar no Castelo de São Jorge


Não se alarmem os mais securitários! Este é um roubo sem faca, sem pistola, sem seringa. É um roubo descarado e sem vergonha, sem dúvida, mas, nevertheless, legal. Gosto muito do Castelo de São Jorge. É um local aprazível, que respira História em cada pedra do edifício, onde se tem uma vista notável de parte da cidade de Lisboa, e de além-Tejo. É um sítio maravilhoso para se estar, para visitar, enfim, para passear. E não é, particularmente, por ser lisboeta. Que sou. Pois vamos a um qualquer sítio do Mundo, e gostamos desse sítio ou não. Ponto. Hoje, durante a tarde, lá fomos, eu e a minha namorada, ao Castelo. Subimos desde a Baixa no mítico eléctrico 28 até lá cima. Saímos na paragem do miradouro de Santa Luzía (outro ponto de esplendoroso interesse), e subimos o pouco que faltava até ao Castelo. A primeira paragem, hoje em dia, é a bilheteira. Noutros tempos, seria um qualquer banco já dentro do Castelo. Não pago, sou de Lisboa (obrigado, Câmara, Governo ou Estado, ou lá que for). Mas a minha namorada, que mora a uns escassos (diria até ridículos, nesta situação) 100 metros de Lisboa, mas já fora da cidade, tem que pôr de fora do bolso a bela maquia de 5€. Como é estudante, tem a benesse de ser apenas metade; 2,5€. Primeiro roubo declarado. Desde que a cultura virou negócio, temos que amochar. Para mais, é um monumento nacional. Pagar para entrar numa "coisa" que "é nossa", é algo que me confunde. E enoja. Mas adiante. Lá entrámos. Andámos um pouquinho, e sentámo-nos na esplanada que existe a caminho do Castelejo. Que agradável... Como tudo, hoje em dia, é negócio, para estar ali sentados havia que consumir. E lá fomos consumir. Perguntei à senhora que estava a trabalhar no café/snack-bar do Castelo quanto era a imperial. Ela respondeu-me, com educação, "2,80€". Espantado, retorqui: "parece que quando entramos no Castelo, entramos noutro país.". Nada mais acertado. À nossa volta, só só só SÓ estrangeiros. Gente interessada, como é óbvio, nas belezas que a cidade de Lisboa lhes tem para oferecer, entre as quais o Castelo de São Jorge. E gente com capacidade salarial para fazer tal. Nada a objectar, como me parece claro. Para tornar esta minha frase mais densa, nada melhor que os preços exorbitantes que aquele estabelecimento (pertencente às Pousadas de Portugal, por sua vez pertencente ao império Pestana) pratica. Parecia mesmo que estávamos noutro país: pagar para entrar no que é nosso e pagar 5,60€ por 2 imperiais... Conversando com a minha namorada, pareceu-nos óbvio o porquê de não haver ali quaisquer indícios de portugueses; é que o português da classe-média, hoje em dia cada vez mais depauperada (ou roubada, como quiserem), não vai: 1º - gastar 5€, caso tenha o "azar" de não ser lisboeta, para entrar num MONUMENTO NACIONAL (ou seja, NOSSO!); 2º - não vai passear para aquele lugar porque não se vai sentar, com os miúdos, depois de uma passeata e de umas brincadeiras, numa esplanada onde pagamos couro e cabelo por qualquer merdinha. Ou seja, o Castelo de São Jorge só existe para estrangeiro lá ir. Nada contra. Muito pelo contrário. Mas quanto aos portugueses, quem quiser lá, conselho meu: leve farnel e uma latinha de suminho ou cerveja no bolso... Isto se for lisboeta... Porque se não for, não se livra da "mocada" logo à entrada... E eu a pensar que os nossos impostos iam para algum lado...

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