sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Caem as máscaras, ficam as pessoas




Hoje, na Assembléia da República, discutiram-se dois projectos de lei que permitiriam o (mais que justo) casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ou seja, acabe-se a hipocrisia e sejam felizes. Aparentemente, o PS não pensa assim. Acha que a felicidade das pessoas e os seus direitos dependem da agenda política. Julgo que é um erro tremendo, uma hipocrisia nojenta. O PS português que pusesse os olhos no exemplo logo aqui ao lado, onde o governo de Zapatero fez as coisas rápida e eficazmente. Mas não fica por aqui, a hipocrisia do PS. Alberto Martins traz nas suas costas o célebre episódio do "peço licença para falar", como se fosse uma garantia vitalícia de boas práticas democráticas. Mas não é. A menos que ele seja o Obélix, que caiu no caldeirão da poção mágica quando nasceu, não reconheço a Alberto Martins esse garantia vitalícia. Alberto Martins fez o corridinho da democracia, deu a cambalhota, e obriga os outros a fazer o que ele abominava que na década de 60 fizessem a ele; lhe cortassem a liberdade de falar. Seja em que bancada for, abomino os votos controlados e disciplinados. Abomino que alguém possa dizer a outrém como vai a sua consciência, como vai o seu pensamento. Abomino que os partidos, que devem ser centros de democracia, de liberdades e de cidadania, possam ser centros de lavagem cerebral, centros cheios de seguidistas e de cabeças ocas. O PS, nesse sentido, prestou um péssimo serviço a democracia. Esteve bem Manuel Alegre que, por estar num partido, não tem que concordar com tudo o que se diz lá dentro. Esteve mal Alberto Martins e a restante direcção do grupo parlamentar do PS que, em consonância com a direcção do Partido, emitiu um comunicado claro: aqui, quem pensa, é meia dúzia. Lá se foi o pluralismo...
Do PSD e do CDS não se esperava outra coisa senão que recorressem à tacanhice conservadora do costume: "ai Jesus, Cruz Credo, Nossa Senhora do Ó, que nos destroem a família tradicional!!!" Destes, nem merece a pena falar. Mas do PS esperava-se muito mais. Mas a esquerda, também, já não mora ali...
Onde, de facto, morará ainda alguma esquerda, mas mora, certamente, uma boa dose de humanismo e de humor e ironia política, é em António Guterres, figura, hoje, incontornável na ONU. Enquanto cá o PS se solidariza na tacanhice de costumes com o PSD e o CDS, lá fora Guterres falava de que é importante que os países desenvolvidos, mas a braços com uma crise financeira, não se esqueçam dos países pobres e das necessidades das suas populações. E disse que gostaria que esses países tivessem a mesma determinação para garantir uma vivência digna as estas populações empobrecidas que tiveram para dar dinheiro aos bancos. Corajoso, irónico, humano. Eis Guterres.