Para mim, a fraca adesão a este protesto tem, repito, para mim, uma componente sociológica mais profunda. Todos os dias oiço colegas meus, deslocados ou não, dizer que mal conseguem pagar as propinas. Às vezes nem conseguem mesmo. E têm que implorar para pagar a prestações. E não protestam. Porquê? Aqui reside a tal componente sociológica, grave, de que falava. A maioria dos jovens de hoje estão-se borrifando para a política. E não só. Para o próprio funcionamento da democracia, o que é mais grave ainda. Alienaram-nos de tal maneira, que o cérebro deles já pouco se move sem ser para o marranço, para jogar às cartas e sair à noite. E pouco mais. Impingiram-lhes o "caminho sagrado da prosperidade" e saem como carneiros das faculdades, sem capacidade reivindicativa. Há colegas meus que se queixam todos os dias por não terem dinheiro para as propinas, pelas condições das suas faculdades, por não terem um apoio da Acção Social forte. Julgam que foram ou vão manifestar-se? Dizem que não vale a pena... A questão é quem lhes incutiu este derrotismo, esta antítese da luta democrática. Eu sei. Pelo menos, conjecturo...
Esta letargia que se apoderou desta gente, não só dos estudantes, pode, um dia, sair-nos cara. Esta não involvência em questões essenciais da nossa sociedade, da nossa cultura, põe em causa o futuro e a nossa capacidade de reagir às situações adversas. Permite a outros decidirem por nós, porque lhes entregamos essa capacidade de decisão de bandeja. A democracia faz-se por todos. Não só pelas cúpulas do poder.
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