Cavaco anda por aí há três anos a passear por um país que, ao ouvirmos o que ele diz sobre Portugal, devia desconhecer profundamente. Anda por aí a apregoar aos ventos, palavrinhas bonitas e de circunstância vindas de uma figura que betonizou o país, com alguns sucessos mas muitos insucessos também, que desprezou o cidadão, que desprezou o país profundo, como agora se verifica. E é isso o que mais me enoja. Cavaco anda a aproveitar, e acho muito bem que o faça, o seu mandato de Presidente da República para conhecer melhor o nosso país, ir para fora, cá dentro. E faz muito bem, pois o nosso país tem recantos de uma grande poesia para descobrir. Mas essa hipocrisia que encerra o andar por aí a dizer que se podia ter feito isto ou aquilo, ou que se deve urgentemente fazer, tem por trás uma tentativa de ilibação histórica ao que foram os seus dez (10!!!!) anos de governação, oito deles em maioria absoluta. Cavaco anda pelo interior, e diz que o interior anda esquecido (pelos vistos, não andava quando ele era primeiro-ministro, conclui-se). Esquece-se que ele foi o pioneiro a fazê-lo. Cavaco desdobra-se a dizer o que se pode fazer, entenda-se por Sócrates, mas não fala do que podia ter feito. Um dia as biografias dirão coisas espantosas deste senhor, mas a mim não me envenenam. Nunca em tempo algum em Portugal jorraram tantos milhões da UE, á data CEE, para apoios ao desenvolvimento do país. Cavaco pegou neles e fez auto-estradas. Para que constasse no seu curriculum. Cavaco deu, mas Portugal não recebeu. Quem recebeu, e muito, foram os grandes empresários, que aproveitaram para meter ao bolso sem nunca ninguém lhes pedir contas dos dinheiros que lhes deram. Qauntos empregos criaram e para onde foi o dinheiro. Eles foram jipes, casas e casarões, latifúndios e solares. Os portugueses acharam bem, e meteram Cavaco em Belém. Cavaco agradeceu. E foi conhecer melhor a merda que fez ao país. Não fora a vitalidade de algumas forças locais no interior do país, já este estaria oco, sem miolo, sem interior, há muito tempo.
Agora, Cavaco anda a apregoar para que hajam entendimentos entre os patrões e os trabalhadores. Quem despede sem justa causa, mas por razões de reajustes devido à situção económica actual, entende-se o que está a fazer: a despedir gente que estava com vínculos estáveis às empresas para os substituirem, quando esta história da crise acabar, por trabalhadores precários, a receberem menos, para a sua engorda ser maior. E como eles já estão anafadinhos... Mas Cavaco deixa uma palavra de "incentivo": "deixo-vos a minha solidariedade, o que é pouco, mas não tenho mais para dar." Ou seja, nunca fiz nada por vós, também não é agora que vou fazer, pois quero ter outro mandato e tenho que me mexer com pinças. Para além disso, a minha laia é a dos Oliveiras e Costas, dos Dias Loureiros e dos Valentes de Oliveiras... É isto que Cavaco pretende dizer. Não tem nada na manga, nem um bocadinho de esperança para dar à pessoas. Tem tanto para lhes dar, como lhes deu durante as suas governações: uma mão cheia de nada. No entanto, teve, e tem, muito para dar aos seus ex-compinchas de governo. OH! A esses a mão estende-se como um guindaste, pronto a puxá-los das suas falcatruas. Alguém do público retorque a Cavaco: "Olhe por nós, pela classe operária, estamos a viver uma situação traumatizante", disse uma das manifestantes, pedindo que "as empresas que despedem funcionários sem razão sejam investigadas"... OH CAVACO! TU NÃO TE METAS NISSO!! Ainda ias descobrir o que os teus comparsas andam a fazer...
Assim vai o país; Cavaco com aquele sorriso (ou esgar...não...sim...é mais um esgar) patético na face, é a imagem de uma pessoa despreocupada com o seu passado, presente ou futuro. Pelo contrário, o desespero das pessoas aumenta... Ainda por cima com respostas "solidárias" e de "incentivo" como aquelas que Cavaco lhes dá... A quem ele dá bons incentivos é aos empresários. E percebe-se porquê.
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