Como não pude escrever o dia inteiro, e como achava absolutamente necessário escrever sobre os vergonhosos ataques de Bombaim, aqui o faço. Tarde, mas era uma questão que me pesaria, decerto, na consciência.
Durante todo o dia de hoje assistimos a uma barbárie que, infelizmente, já não podemos dizer que nos seja completamente nova. Os moldes podem ser, de facto, inovadores (pelos piores motivos, como o foram os dos ataques às Torres Gémeas nos Estados Unidos da América), mas a barbárie, essa, continua lá toda, em todo o seu "esplendor". Os motivos e reivindicações desta sangria brutal ainda estão por ser revelados, mas não andaremos longe se dissermos que têm por base grupos fundamentalistas islâmicos que tinham os objectivos definidos, em termos de locais, e cujo propósito deveria ser, ao que tudo indica, fazer, como é hábito nestes grupos, o maior número de vítimas possíveis.
Tudo isto acontece na antecâmara de uma mudança de dono da Casa Branca e quando o estreitamento de laços entre EUA, Grã-Bretanha, Índia e outros países, se acentuava com vista a não dar tréguas ao extremismo islâmico. A grande questão que se coloca é a de saber onde estamos face a esta luta contra o terrorismo. Estaremos mais perto da resolução destes problemas ou mais longe? Bom, a resposta pode ser dada por todos nós, alguns mais outros menos leigos nestas matérias. Todos podemos opinar sobre esta problemática, já que é um fantasma que pende todos os dias sobre as nossas cabeças. Na minha humilde opinião, estamos hoje mais longe de uma resolução para este problema. O terrorismo vai ganhando algumas batalhas, vai perdendo outras, mas tem sempre forças para se reorganizar e voltar à carga. A força das armas e da brutalidade de prisões como Guantanamo, não têm ajudado a causa civilizadora. Porquê? A resposta está na própria frase atrás. Não se constrói um mundo novo e melhor por via das armas. Nem se pode alicerçar uma justiça credível em antros de violação sistemática de Direitos Humanos. Com isto, só há uma força que ganha: a do terror, que, assim, consegue facilmente mais "mártires" para as suas batalhas de ódio. A registar ainda, o esforço diário de forças dos serviços secretos de segurança de alguns estados que têm feito das tripas, coração para evitar que massacres como o de Bombaim sejam perpetrados. Mas isto mesmo quer dizer que se se está a evitar algumas barbáries, é porque elas ainda se planeiam. Se se planeiam, é óbvio que a luta para desarmar os terroristas está a falhar. Se a guerra contra o terrorismo, como já se viu, não poderá ser ganha no campo das armas, no campo militar, que mais soluções há? Bom, a resposta não é simples. Tanto não o é, que ainda ninguém a conseguiu encontrar. E não vai ser um rapazinho a falar através de um simples blog que vai tirar esse coelho da cartola. Mas mesmo assim, gostaria de apresentar o meu caso. Parece-me a mim, nitidamente, que em termos puramente comportamentais estes grupos extremistas e fanáticos parecem-se com pré-adolescentes. A idade dos porquês, a idade do "ou me dás o que eu quero ou faço birra". E parece-me, hoje mais que nunca, porque, se calhar, também cresci com esta vaga de atentados extremistas islâmicos, que a solução tem de passar, necessariamente por alguns vectores que passo a enumerar. Erradicar a pobreza no mundo, a fome, a miséria. Este seria um passo gigantesco para afastar os potenciais candidatos a vagas nas escolinhas do martírio. Encetar diálogos com islamistas não radicais, mas de pendor conservador e mais ortodoxo. Daqui poderiam surgir soluções interessantes para o fim da barbárie. Resolver, de uma vez por todas, questões pendentes e fracturantes como o Estado de Israel vs o Estado da Palestina, a questão de Caxemira, entre outros. Ou seja, tirar razões que possam dar azo à luta armada por parte dos extremistas islâmicos assassinos. A uma criança tentamos explicar-lhe que as coisas não podem ser feitas de uma maneira só porque ela entende que assim deve ser, ignorando os factos pelos quais a coisa não pode ser feita. Há que educá-la, fazê-la crescer, azê-la entender e esperar os frutos. Isto não é o trabalho de um dia. Em relação ao terrorismo, isto não há-de ser, de facto, o trabalho de um dia. Nem de um mês. Nem de um ano. Mas sim de gerações. O que podemos constatar é que a acção armada e hostil, não resolveu os problemas essenciais e que já existiam há anos neste campo do extremismo islâmico. Não resolveram nem, a meu ver, resolverão. Só acções concertadas e de âmbito global, de respeito e de diálogo, podem dar frutos que os vindouros, talvez, possam colher. Até lá, acabe-se com a fome, com a exploração das crianças, com o tráfico de seres humanos, com a miséria, etc., etc., etc.; eduquem-se as pessoas, dê-se-lhes um rumo. Não para torná-las meros "carneiros", mas para que possam pensar por si próprias, sem que se tornem tão maleáveis aos pensamentos e urdiduras de pessoas que, infelimente, como Bin Laden, mostram o pior da espécie humana, aumentado várias vezes em telescópio electrónico. Existirão sempre Bins Ladens. Mas pode-se reduzir drasticamente a produção em série destes. É preciso é vontade política, o que ainda, pelo que está à vista, vem longe.
O manto negro do luto cobriu mais uma vez a face da Terra. Deste cantinho do mundo, o meu pensamento está com as famílias afectadas por esta barbárie. Para elas que, agora, nada faz sentido, é preciso ajudá-las a encontrar um rumo, um pedacinho de paz. O meu pensamento está também com os atacantes, que deixaram que a estupidez e o ódio vencessem o seu racionalismo, e uma das primordiais razões de se ser: existir e coexistir pacificamente com os outros. Eles, apesar de não o saberem, são os verdadeiros derrotados do dia de ontem.
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