Assinalam-se hoje os 34 anos da Revolução de Abril, que abriu as portas à Democracia e fechou as da miséria, do analfabetismo, do atraso, da fome. Talvez as não tenha fechado com a veemência que se impunha, já que muito há ainda por fazer. Mas não há dúvida que se encerrou um vil capítulo da nossa História. Como é hábito, houve a Sessão Solene na Assembléia da República, com discursos para todos os gostos e feitios. Mas o discurso que mais me surpreendeu foi o de Cavaco. Aliás, não fui totalmente apanhado de surpresa, já que o percurso de Presidente da República deste senhor se pauta por um "tá que não tá" "vai que não vai" diz que diz mas não diz", um caminho de meias palavras, de hesitações e sobretudo de "sobre isso não tenho opinião" ou "sobre essa matéria não posso falar aqui". É o que os nossos proto comentadores políticos gostam de chamar de "magistratura de influência". Eu sou mais modesto e chamo-lhe palhaçada. Ou mesmo pântano, uma palavra que entrou no nosso vocabulário político pela mão de Guterres. Adiante. Cavaco falou de um país que ele desconhecia, porque, aliás, ele (e Sócrates) vive num mundo muito próprio; falou de um país em que, espante-se, os jovens ignoram o 25 de Abril, não sabem o que representa, o que foi, como foi. E disse-se impressionado. Mais; disse "não ser saudável que a nossa democracia despreze o seu código genético e as promessas que nele estiveram inscritas". Mas mais ainda; "num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar", comentou. E ainda disse outras coisas que tais, que não valem a pena estarem a ser esmiuçadas. O meu espanto é que o senhor que disse tudo isto, é o mesmíssimo senhor que esteve durante 10 (DEZ!) anos no poder, 8 (OITO!!!) deles em maioria absoluta, e queixa-se de tudo isto que se passa à sua volta como se não tivesse nunca tido nada a ver com a governação do país! Cavaco tem claras responsabilidades nisto, e não deve mandar "postas de pescada"! Deve, sim, pedir desculpa por nada ter feito sobre esta matéria no tempo de governação que teve ao seu dispôr! Mas não... Devemos é continuar a ouvir este senhor mandar estas bocas como se nunca tivesse governado o país, como se fosse uma espécie de vulto paternal da nação, de longas e alvas barbas e cabelo ao vento, de quem se devem ouvir os conselhos e esquecer o que ele fez durante 10 anos. Pois eu não tenho fraca memória. Lembro-me dos anos de 1985 a 1995 em que ele deambulou pelos corredores do Palácio de São Bento, líder de um governo autista, autoritário, descricionário. Ocorre-me perguntar-lhe para onde foram os milhões e milhões e milhões da Comunidade Económica Europeia, à data... Na Irlanda é muito óbvio para onde foram. Mas não se deve colocar tais questões ao mentor e pai da nação. Deve-se, sim, prestar-lhe vassalagem e ter por ele uma enorme reverência. Beijo-lhe a mão, Pater familias. E peço perdão por pô-lo em causa desta maneira.
2 comentários:
oito anos com maioria absoluta???'xiiiiiiiii...ena tantos!!
Ora, em 34 anos de democracia...bom...dá...8 anos de governação...bom...dá...mais ou menos...23,5% do tempo...Contando com os 10 dá...oraaa...fazendo as contas...oraaa...dá...29,4...Bom...isto é só fazer as contas, parafraseando António Guterres. Ou seja, não é assim tão pouco tempo. Talvez eu esteja enganado, mas este assunto que o nosso honrado Presidente da República Bolo-Rei...perdão...Cavaco Silva...abordou, deve ser culpa, uma vez mais, da esquerdalha nojenta... Nunca ele tem a menor mancha do capote. Que grande HOMEM!
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