José António Saraiva (adiante referido como Besta Quadrada), publicou há dois dias um perturbante manifesto contra as liberdades dos cidadãos. Critica ele o facto de dois homossexuais, imagine-se, poderem separar-se.
Mas as psicopatologias deste senhor vão mais fundo. Porque ao facto de ele considerar uma injúria ao amor eterno eles poderem separar-se, ajunta também o seu ódio flamejante pelo facto consumado de eles se poderem casar em primeiro lugar. Mas fá-lo de uma forma tão fraquinha, que até chega a causar pena e compaixão... (not!)
Esmiuçando a coisa, a Besta Quadrada diz, cito: "Separado? Mas os gays, que travaram uma luta tão grande, tão longa e tão dura para poderem casar-se, separam-se afinal com a mesma facilidade dos outros casais? Não seria normal que, pelo menos nos primeiros tempos de vigência da nova lei, procurassem ser exemplares, até para provarem aos opositores que as suas convicções eram fortes e sua luta era justa?" Bom, como a sociedade está, claramente, ferida pelos danos morais causados pela luta de um grupo de cidadãos pela obtenção de direitos fundamentais, pelos quais nem se devia lutar, pois já deveriam ser tácitos, os mesmos não poderiam aceder aos mecanismos que a Justiça e o Direito Civil lhes conferem para resolver questões dentro do contracto que é o casamento. Isto sob a capa de que eles deveriam ser os primeiros a mostrar que a "sua luta era justa". Pois deixe-me que lhe diga, Besta Quadrada, que TODOS OS AGENTES da sociedade devem pugnar para que esta se transforme em algo pelo qual valha a pena lutar e em que valha a pena viver. Agora imputar aos gays, e somente aos gays, a tarefa hercúlea de tornar a sociedade num bem maior, parece-me tirado da cabeça de alguém que tenha um bróculo como cérebro.
Prossegue o esbirro: "Acresce que um dos membros do ‘casal’, Jorge Nuno de Sá, na altura deputado, pessoa com alguma notoriedade social, ao assumir o risco de tornar pública a sua homossexualidade e o seu amor por um homem, parecia querer dizer a todos que a decisão de se casar fora devidamente amadurecida. Ora, depois disso, qual o sentido de se separar ao fim de meia dúzia de meses?" Diria eu que, cada cavadela, cada minhoca. A taxa de divórcios em Portugal, segundo a Pordata, em 2009, mostram dados que são o que são; quase 65 pessoas por cada 100 casamentos, divorciavam-se. Ou seja, hoje o divórcio é curriqueiro (tema que dava pano para mangas). Seja como for, um casamento, seja ele entre um homem e uma mulher, um homem e um homem, uma mulher e uma mulher, um homem e uma ovelha, é sempre uma questão de monta, ponderada e pensada (se bem que nem sempre o quanto baste). A Besta Quadrada acha que só os gays devem pensar muito e bem sobre isso, pois "ao assumir o RISCO de tornar pública a sua homossexualidade" eles devem estar bem cientes da quantidade avultada de inquisidores que ainda andam por aí... Ao contrário dos casais tradicionais, claro, em que o homem pode meter a sua mulher a lavar pratos, enquanto se peida e bebe uma cerveja em cima do sofá.
Este texto é só pequenas pérolas e vale a pena lê-lo para quantificar a baixeza humana, a estupidez e a ignorância desta gentalha que só contribui para o fanatismo social e subsequente ostracização e segregação.
Só há uma e uma só coisa em que concordo com este ignaro: "Embora uma queixa na esquadra por agressão conjugal – quer se trate de dois maridos, de duas mulheres ou de um marido e uma mulher – seja sempre uma forma muito triste de acabar um casamento." Mas o que vem antes acaba por ferir de morte esta frase: "Agora um casamento onde há dois maridos e nenhuma mulher é coisa muito estranha."
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